sexta-feira, 18 de maio de 2012


AI QUE SAUDADES... Ruth Rocha 
Ai que saudades que tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais... Me sentia rejeitada, Tão feia, desajeitada, Tão frágil, tola, impotente, Apesar dos laranjais. Ai que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Não gostava da comida Mas tinha que comer mais... Espinafre, beterraba, E era fígado e era fava, E tudo que eu não gostava Em porções industriais. Como são tristes os dias Da criança escravizada, Todos mandam na coitada, Ela não manda em ninguém... O pai manda, a mãe desmanda, O irmão mais velho comanda, Todos entram na ciranda, E ela sempre diz amém... Naqueles tempos ditosos Não podia abrir a boca, E a professora era louca, Só queria era gritar. Senta direito, menina! Ou se não, tem sabatina! Que letra mais horrorosa! E pare de conversar! Oh dias da minha infância, Quando eu ficava doente, Ou sentia dor de dente, E lá vinha tratamento! Era um tal de vitamina... Mingal, remédio, vacina, Inalação e aspirina, Injeção e linimento! E sem falar na tortura: Blusa de gola engomada, Roupa de cava apertada, Sapatinho de verniz... E as ordens? Anda direito! Diz bom dia pras visitas! Que menina mais sem jeito! Tira o dedo do nariz! Que aurora! Que sol! Que nada! Vai já guardar os brinquedos! Menina, não chupe os dedos! Não pode brincar na lama! Vai já botar o agasalho! Vai já fazer a lição! Criança
não tem razão! É tarde, vai já pra cama! Vê se penteia o cabelo! Menina se mostradeira! Menina novidadeira! Está se rindo demais! — Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras, À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais
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