terça-feira, 6 de julho de 2010

MEUS OITO ANOS
Linda Poesia de CASIMIRO DE ABREU (1839 - 1860)

Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é lago sereno,
O céu manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino d’amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegra,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! Dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias,
DE minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito
- Pés descalços, braços nus-
Correndo palas campinas
À roda das cachoeiras
Atrás, das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava á beira do mar,
Rezava as Aves- Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! Que saudades que tenho............