segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Primeiro Dente

“Anda a casa uma alegria extraordinária.
Algum notável e estranho acontecimento põe todos em polvorosa.
Até parece um dia de festa!
Foi isto: Tim- Tim já tem um dente, já tem um pequenino dente da cor da neve.
Há pouco quando traquinava no colo materno, o nenê abrira a boca e a jovem mãe descobriu, então, na gengiva do maxilar inferior, uma pontinha de diamante, rompendo, como um sol, as rosas da carne e enchendo de luz todo o céu... Da boca.
Um dente – o primeiro! Deliciosa surpresa!
Dadá, sentada em um banquinho, tem, de pé sobre os joelhos, o filhinho. Envolve-o amorosamente na luz e carinhosa, no seu santo desalinho da maternidade, de seus grandes olhos castanhos; as tranças desfazem-se pelos ombros, emoldurando, um rosto, belo,mas de uma beleza feita de serenidade,de amor, de muito amor.
Sua boca energicamente talhada arqueia-se em um adorável sorriso de contentamento.
Tim-Tim bate-lhe no rosto com as mãozinhas, vestindo apenas uma camiseta. Mal se agüenta nas perninhas curtas e rechonchudas.
E o dentinho lá está... Mal se percebe surgindo entre o círculo cor de rosa, que vai despontando na gengiva... Mal se percebe, e, no entanto que festa! Que júbilos!
Todos querem vê-lo, todos querem apalpá-lo
-Cá está ele! Picou-me o dedo. Que engraçadinho!
O avo, velhinho, muito risonho, Toma o netinho no colo.
Eh! Eh! Já tem um dente, o maroto! É como o vovô, que também só tem um dente!”


Antonio Valentim da Costa Magalhães. Formou-se em Direito, Escritor nacional, da Academia Brasileira de Letras, jornalista, (nasceu no Rio de Janeiro em 1859 e faleceu em 1903.)