quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Trecho do (Sermão da Sexagésima)

Sermão da Sexagésima ( pregado na Capital Real, em março de 1655, por Padre Antonio Vieira, )


O semeador:8,4-15
O semeador do nosso Evangelho não desanimou, nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira perda: continuou por diante no semear, e foi com tanta felicidade, que nesta quarta e última parte do trigo se restauraram com vantagem as perdas do demais: nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se, achou-se que por um grão multiplicara cento: ( Et fecit fructum centuplum).
Oh que grandes esperanças me dá este semeador!
Dá-me grandes esperanças a sementeira, porque, depois de perder a primeira, a segunda e a terceira parte do trigo, aproveitou a quarta e última e colheu dela muito fruto.
Já que se perderam as três partes da vida, já que uma parte da idade a levaram os espinhos, já que outra parte a levaram as pedras, já que outra parte a levaram os caminhos, e tantos caminhos! Esta quarta e última parte, este último quartel da vida, por que se perderá também?
Por que não dará fruto?
Por que não terão também os anos o que tem o ano?
O ano tem tempo para as flores e tempo para os frutos.
Por que não terá também o seu outono a vida?
As flores, umas caem, outras secam, outras murcham, outras leva o vento; aquelas poucas que se pegam ao tronco e se convertem em fruto, só essas são as venturosas, só essas são as discretas, só essas são as que duram, só essas são as que aproveita, só essas são as que sustentam o Mundo.
Será bem que o Mundo morra à fome?
Será bem que os últimos dias se passem sem flores?
Não será bem, nem Deus quer que seja, nem há de ser.